Realizado por Leitão de Barros
com Adelina Abranches, Chaby Pinheiro, Alves da Cunha, Estevão Amarante
O incansável realizador Leitão de Barros, o primeiro a usar esta designação em Portugal, aproveitou para, em junho de 1929, numa pausa da rodagem de Maria do Mar, realizar Lisboa, Crónica Anedótica, breve filme mudo, onde se sucedem momentos de ficção num registo claramente documental sobre como se nasce, vive e morre em Lisboa.
Perpassa a obra a sensação de que algo novo está a nascer (a par com os alvores do novo regime). Sendo inevitável a comparação com outro filme do mesmo período, Douro, Faina Fluvial (1931) de Manoel de Oliveira, na obra de Leitão de Barros vemos passar na grande telão não só os maiores nomes do teatro de então como também inúmeros espaços muito familiares, ainda hoje, aos alfacinhas. Não se trata, pois, de mostrar a dureza da vida, ainda muito ligada ao setor primário, de então mas sobretudo de fixar a vivência de uma cidade que funcionava cada vez mais como pólo aglutinador de grande parte da população portuguesa.
Essa migração para a capital representava uma ameaça às particularidades regionais de Lisboa mas também e sobretudo um momento decisivo da sua passagem a grande cidade, uma grande cidade muito rural ainda assim. Misturando imagens de bilhete-postal com pequenas narrativas, esta película inscreve-se nas sinfonias urbanas da época, conciliando as tendências modernista do cinema europeu com um cunho semi-politizado mas não abertamente ideologico, tão característico de Leitão de Barros.
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